segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Todo Mundo é Pródigo I

Enquanto houver dia

(ou A fuga da Prodigalidade)

Para que saibamos
Que, parnasianos ou profetas,
Sofisticamente poetas,
Jamais teremos o mundo.

Ter o mundo não nos cabe
Não por nos ser grande
Não por nos ser pesado
Mas porque estar no mundo é passado
Para quem já abraçou os céus.


Para que saibamos
Que, muito ou pouco, ou quase nada
Quão curta ou longa a estrada
No tecido tempo-espaço
Que nos foi delimitado
Nossos sonhos engolirão o mundo
Apenas para saber que dele
Não levaremos nada.

Para que saibamos hoje e sempre
Para enquanto houver dia
E o sol não se pôr sobre nossas cabeças
E as trevas não engolirem nossos umbrais
E os passos se emaranharem no solo
Impavimentável de nossas esperanças

Pois o dia é o tempo;
O tempo são que é pleno de si
Para nele andarmos conscientes
Da retidão dos nossos passos
Façamos as obras
Conforme alcançam nossos braços
Sem tropeços, sem embaraços
Porque certamente nossos sonhos
Subjugarão o mundo

Para que saibamos
Na áurea aurora
No alvo alvor
No crepuscular ocaso
Na contingência do acaso
No possível do fracasso
No triunfo da vitória

Na irrenunciável memória
Da cruz do Invicto Salvador
Nossos sonhos

Perderão o mundo
Ganharão o mundo
Porque certamente terão o mundo
Por vencido.

Pois o dia é o tempo
E dele o que se espera?
Que dure a eternidade do hoje
E resista às incertezas do amanhã.

Fujamos, fujamos!
Da nossa tendência implacável
Que insiste em trocar nossos sonhos no afã
De se perder na quimera
De quem urge, urge, urge
Para ter, ser, viver
E jogar-se inteiro no sistema
Implacável que nos lega
A ilusão de ser o mundo: ter o mundo, ilusão...
Implacável que nos nega
A assunção de nossos sonhos
Pois que, deles, o que se espera?
Que durem a eternidade do hoje
E resistam, impávidos, colossais,
Na sua certeza imbatível
De que sempre, sempre aspirarão
Diminuir, amainar, apequenar,
Até ser só um traço,
Ínfimo e diminuto,
Apontando para quem venceu o mundo.

Glória Cruz

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